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Cap. 290

Cedro Vermelho, vivendo o dia mais longo de sua vida, para em frente à cabana de Chuva Quente.

Por mais que ele esteja decidido, uma considerável parte sua adoraria ouvir a corneta da cavalaria americana nesse momento.

Ele respira tentando tragar as palavras certas para dizer assim que entrar, mas tudo o que consegue é sentir o cheiro da água do banho do padre e de Dente de Lobo.

Finalmente, mas ainda sem muita convicção, o líder da tribo adentra a tenda. Ainda sem saber o que dizer, ele ouve:

— Você voltou. O que aconteceu? Sapo Gordo morreu e você ficou sem bebida?

Cedro começa a perceber uma certa associação maldosa entre sua pessoa e o hábito de beber, mas isso é problema para se pensar mais tarde, de preferência, acompanhado por alguma bebida.

Chuva Quente prossegue: — Você ficou tanto tempo parado lá fora que pensei se não seria melhor ir regar você.

Cedro: — Se você me viu, por que não me chamou para entrar?

Chuva: — Talvez eu tenha desistido, depois de tantas vezes.

Cedro comprime os lábios. Ela tem razão.

Chuva: — Mas minha tenda nunca esteve fechada para você. Tanto para entrar, quanto para sair.

Cedro decide falar: — Talvez por isso eu nunca tenha dado o devido valor. Sempre havia um compromisso, uma responsabilidade, uma guerra…

Chuva: — Uma esposa, um marido.

Cedro: — Também. E eles foram ótimas pessoas que nos fizeram muito felizes.

Chuva: — Acho que sim.

Cedro: — Mas não vim falar do passado. Hoje você perdeu uma filha e eu quase perdi um filho. Nós já perdemos nossos companheiros também.

Cedro respira e conclui: — Perdemos muito. Acho que, pelo menos, podemos não perder mais tempo.

Chuva: — O que você está querendo dizer?

Cedro: — Assim que você se recuperar da partida de Nokomis, se você ainda quiser, eu quero entrar na sua tenda para ficar.

Chuva está surpresa, feliz e muito desconfiada: — Quanto você andou bebendo hoje?

O chefe realmente precisa mudar sua imagem.

Cedro: — Não precisa decidir agora. Você me esperou, é minha vez de esperar.

Chuva: — E você vai ficar esperando aí, em pé, na entrada de minha tenda?

Cedro: — Não. Se você permitir, vou me sentar um pouco. Comi um cozido de truta na cabana de minha mãe que está pesando em minha barriga.
 

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